segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Como colocar os pequenos em Contato com a Literatura


Todos os especialistas concordam que, num país como o Brasil, a escola tem um papel fundamental para garantir o contato com livros desde a primeira infância: manusear as obras, encantar-se com as ilustrações e começar a descobrir o mundo das letras. É nas salas de Educação Infantil que você, professor, deve apresentar os diversos gêneros à turma. Nessa fase, o que importa é deixar-se levar pelas histórias sem nenhuma preocupação em "ensinar literatura". Ler para os pequenos e comentar a obra com eles é fundamental para começar a desenvolver os chamados comportamentos leitores.


  Por que ler


Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir uma história contada por ele, ao observar as rimas (num poema ou numa música), os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. É o primeiro passo para se tornarem leitores literários - percurso que vai se estender até o fim do Ensino Fundamental.

Quem lê

Como a maioria das crianças de creche e pré-escola não é alfabetizada, a leitura deve ser feita pelo professor. Mas é essencial deixar que todos manipulem os exemplares. Incentive-os a folhear as páginas, observar as imagens e os textos e levar as obras para casa.

Como ler

Existem dois modelos básicos: o contato pessoal da criança com o livro, como foi explicado acima, e a roda de leitura, em que o professor lê para toda a turma. Nesse caso, é preciso sempre planejar a atividade, da escolha do texto às formas de interação. "A apresentação, a seleção e a preparação prévias, os motivos explicitados, a consideração do leitor, o incentivo aos comentários posteriores e o clima criado devem ser intencionais, e não obras do acaso", explica Virgínia Gastaldi, formadora do Instituto Avisalá, em São Paulo, no texto Quem Conhece Pode Escolher Melhor. Da mesma forma, o momento da leitura exige postura adequada, entonação de voz e uso correto das ilustrações para ajudar a conduzir a narrativa. No fim, é muito importante coletar as impressões da garotada, o que pode ser feito com perguntas simples: de qual parte da história cada um mais gostou (e por quê), o que chamou mais a atenção em cada personagem, qual ponto provocou mais alegria (ou medo, preocupação etc.). Esse momento de pensar sobre o que foi lido e expressar opiniões é um comportamento típico de quem gosta de ler - e vale para toda a vida. E não se esqueça de que essas opiniões podem (e costumam) ser diferentes. Essa troca também é boa para estimular os pequenos a aprender a ouvir o que os outros têm a dizer.

Quando ler

Já é amplamente sabido que a leitura deve ser uma atividade diária na Educação Infantil. Mas nunca é demais lembrar que as crianças pequenas não têm paciência para ficar muito tempo fazendo a mesma coisa. Portanto, reserve dez ou 15 minutos por dia no início dessa "caminhada". Sobrecarregar os pequenos pode transformar a hora da leitura num momento chato. E, aos poucos, vá aumentando esse tempo. À medida que criam o hábito da leitura, os pequenos começam a prestar atenção em histórias mais longas.

Onde guardar os livros


É muito comum cada sala de Educação Infantil ter um cantinho de leitura, com uma pequena estante. O ideal é que todo o acervo fique ao alcance das crianças (perto do chão e sem obstáculos entre obras e leitores). "Nessa fase da escolarização, o educador deve ensinar os cuidados básicos que devemos ter com o livro", diz Renata Junqueira, coordenadora do Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil Maria Betty Coelho Silva (CELLIJ), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Presidente Prudente.


  O que ler



As histórias de ficção (como os contos de fadas) são as que mais encantam as crianças, mas é importante oferecer a elas diversas obras para que criem um repertório amplo. Como explica Renata, "os livros são um ótimo caminho para ampliar o universo cultural dos pequenos porque permitem entrar em contato com situações desconhecidas". Virgínia, em seu texto sobre a leitura na Educação Infantil, dá outra dica preciosa: "Preocupe-se com a qualidade literária, e não com o conteúdo moral". Isso não quer dizer que você pode escolher histórias amorais, mas que uma história bem escrita tem mais chances de prender a atenção de todos. Por isso, fique sempre com os textos que têm descrições ricas, misturem mistério e comédia e estimulem a imaginação, criando uma aventura interessante (no quadro abaixo, confira algumas indicações para turmas de Educação Infantil). E fuja dos materiais "escolarizados", cujo principal objetivo não é entreter a criançada, mas apenas ensinar que isso é o pato e aquilo é azul ou verde, sem nenhuma preocupação com a linguagem literária.

Presentear com um livro, seja qual for sua idade, pois acredite quem quiser, não perdemos tempo ao ler para quem ainda não aprendeu a falar. Não podemos dizer que haja uma idade mais correta para começarmos o incentivo à leitura.

Segundo Priolli (2008, p. 10), os pequenos podem até não entender todo o enredo de uma história, porém a leitura em voz alta os coloca em contato com outras dimensões das linguagens oral e escrita, percebem que a fala coloquial é diferente daquela usada numa leitura, que tem cadência, ritmo e emoção e que também as histórias tem início, meio e fim.

Para alguns teóricos, as crianças que desde muito cedo tem livros ao seu alcance, provavelmente se interessarão pela leitura na vida adulta. Ana Maria Machado (2002, p. 10), fala de suas lembranças em relação à leitura na infância e a relação com momentos afetivos, destaca que essas lembranças infantis ficam muito nítidas e duráveis e isso talvez ocorra porque a memória das crianças ainda está tão disponível e virgem que as impressões deixadas nela ficam marcadas de forma muito profunda, ou talvez por que essas impressões sejam muito carregadas de emoção.

Além disso, segundo a autora citada acima, muitos adultos dão testemunho disso: as experiências positivas de leitura na primeira infância produzem bons leitores adultos. Dessa forma, começar o incentivo à leitura pelos nossos bebês seja um grande passo para a contribuição de futuros adultos leitores.

Para Priolli (2008, p. 13), existem muitos benefícios em colocar os pequenos em contato com os livros. Várias funções psicológicas podem ser desenvolvidas, como por exemplo, a memória e a capacidade de estruturar informações. A leitura em voz alta desperta a sensibilidade para diferentes formas da fala e ainda tem o efeito sobre a chamada atenção seletiva - a capacidade de se desligar de outras fontes de estímulo mantendo-se concentrada em uma só atividade por períodos mais longos.

Além desses benefícios, o mundo do “era uma vez...” traz ao pequeno uma noção de temporalidade, que por vezes nessa idade não é muito perceptível. Sem falar da relação de afeto que envolve a leitura quando é feita, principalmente por familiares, este é um momento de prazer, já que o familiar, sejam pais, avós, tios, dispensam aquele tempo especial para o pequeno e ele se sente valorizado, amado, importante. Pois a criança, muitas vezes, não presta tanta atenção no enredo, mas na voz que conta, na sua entonação, nas feições do rosto, nos movimentos de quem fala. Como podemos citar o exemplo do escritor Milton Hatoum, que segundo Gurgel (2008, p. 2), quem mais estimulou a sua imaginação, não foi um livro ou uma biblioteca. Foi a voz de seu avô. O primeiro livro que leu foi um livro escutado. Foi uma narrativa oral. A semente plantada nele, o amor pela literatura, foi trazida pela oralidade, pela voz de seu avô.





Além da leitura oral feita por um adulto, o simples manuseio do livro, seja de papel, de plástico ou de tecido é importante, porque coloca os pequenos em contanto com a linguagem escrita e logo cedo já começam a identificar sinais gráficos.

Durante a primeira infância as crianças passam por transformações que podem ser percebidas diariamente e a sua compreensão também está sempre mudando. E é aí que entram os clássicos universais que por serem atemporais são sempre atuais e são capazes de envolver os pequenos leitores.

Também é importante salientar que os momentos de leitura com pequenos devem ser dinâmicos, com duração variável. Criatividade não pode faltar. Já que se esse momento se torna uma diversão, os livros acabam se transformando tão atraentes quanto os brinquedos e brincadeiras. É sempre bom preparar o ambiente para esse momento tão especial, apagar as luzes, criar um cenário, trazer brinquedos que possam ilustrar a história, etc.

Os livros cumulativos aqueles que trazem muita repetição e aos poucos novos elementos vão sendo introduzidos funcionam muito bem com os bebês, porque seus enredos se tornam mais fáceis de memorizar. Podemos citar o exemplo do livro Dona Baratinha, recontado por Ana Maria Machado (2004), toda criança pequena fica encantada com essa história. O narrador a todo o momento questiona sempre repetindo os mesmos termos “quem quer casar com Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?”. As informações trazidas pelo narrador que variam são somente os personagens que se candidatam a noivo de Dona Baratinha, animais em sua maioria domésticos ou mais ou menos conhecidos pelas crianças o que as aproxima também da identificação com a história. A resposta da protagonista vai sempre se repetindo após o animal sinalizar através do uso das onomatopéias (miau-miau, au-au-au, bé-é-é) como faz à noite: “Ai, não! É muito barulho não me deixa dormir”. Além de apresentar inúmeras características de uma obra que agrada as crianças, Dona Baratinha é um clássico, e por isso é também tão atual.

Assim quando a relação bebê versus livros se torna prazerosa, divertida, só tende a formar um futuro leitor, pois seres humanos gostam de reviver emoções que lhes dão prazer, como por exemplo, quando comem uma boa comida em um restaurante, certamente voltarão para apreciá-la mais uma vez. Assim também acontece com os livros.

Em razão do que foi dito podemos dizer que livros e fraldas devem combinar sempre, pois para a formação de bons leitores adultos é importante colocar desde cedo as crianças em contato com a leitura. Dessa forma, os pequenos criam o hábito de escutar histórias, valorizando o livro como fonte de conhecimento e entretenimento. A escuta de histórias oportuniza momentos de prazer em grupos ou em família, enriquece o imaginário, amplia o vocabulário, além de familiarizar a criança com a leitura, uma prática valorizada pela sociedade.

BIBLIOGRAFIA

Andar entre Livros, Teresa Colomer, 208 págs., Global Editora, tel. (11) 3277-7999 begin_of_the_skype_highlighting (11) 3277-7999 end_of_the_skype_highlighting, 35 reais

Caminhos para a Formação do Leitor, Renata Junqueira de Souza (org.), 120 págs., Ed. DCL, tel. (11) 3932-5222 begin_of_the_skype_highlighting (11) 3932-5222 end_of_the_skype_highlighting, 27,50 reais

Leituras Literárias: Discursos Transitivos, Zélia Versiani (org.), 208 págs., Ed. Autêntica, tel. 0800-283-1322, 43,90 reais

Ler e Escrever na Escola - O Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 36 reais

Letramento Literário: Teoria e Prática, Rildo Cosson, Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838 begin_of_the_skype_highlighting (11) 3832-5838 end_of_the_skype_highlighting, 144 págs., 25 reais

A Paixão pelos Livros, vários autores, 152 págs., Ed. Casa da Palavra, tel. (21) 2222-3167 begin_of_the_skype_highlighting (21) 2222-3167 end_of_the_skype_highlighting, 35 reais

GURGEL, Luis Henrique. Não há literatura sem memória. In: Na ponta do lápis. São Paulo: CENPEC, 2008.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

____________. Dona Baratinha. São Paulo: FTD, 2004.

PRIOLLI, Julia. Fraldas e livros. In: Nova Escola. Ed. Especial. n. 18. São Paulo: 2008.

Tatiane Aparecida da Silva n°68

Nenhum comentário:

Postar um comentário